terça-feira, 25 de junho de 2013

Dois Santuários no eixo que corre de Minas a Pernambuco, cruzando toda a Bahia, a caminho do mar...

Seguindo a palestra de Ariano Suassuna, proferida em dezembro de 2012, em Belo Horizonte, no programa  Sempre um Papo, fiquei contente de poder ouvi-lo comunicar-nos sobre os motivos e o sentido simbólico profundo do Santuário de estátuas esculpidas à frente da Pedra do Reino em São José do Belmonte-PE. Ele foi construído em homenagem a Aleijadinho, em comunhão simbólica com o santuário do Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas-MG, onde se encontram as 12 estátuas dos profetas do Aleijadinho.

"O Aleijadinho era um escultor de importância mundial", diz Ariano. "Um grande romancista francês, André Malraux, escreveu um livro, muito bonito aliás, chamado  O Museu Imaginário. Ele pegou e colocou num livro só o que há de mais importante na arte do mundo inteiro... e o Aleijadinho está lá. E para mim isso não é cartaz para Aleijadinho não, é cartaz para André Malraux, que teve o bom gosto de descobrir a beleza do [Santuário]." E acrescenta: "Eu prefiro Aleijadinho a Michelangelo. Vejam bem: Eu respeito Michelangelo, sei da importância dele, mas Michelangelo fazia uma arte muito ligada à medida, à harmonia, e eu não gosto não, acho meio monótono. Tem gente, inclusive, que reclama, dizendo que Aleijadinho não sabia de anatomia, - graças a Deus! - tá certo?, porque isso aqui não é um homem não, é uma escultura. [...] Ele não tem erro de anatomia não; esse erro de anatomia que, por ventura, ele deu, graças a Deus!, é isso que faz a maior força em Aleijadinho, essa arte meio áspera, e muito brasileira. Ele era um artista do grandioso e não do belo". E explica: "Estou mostrando isso a vocês porque, desde que eu li a frase de Alceu Amoroso Lima... - e eu vou repetir para vocês guardarem, porque é muito honrosa para nós nordestinos e para vocês mineiros, ou melhor, para nós nordestinos, mineiros e brasileiros, como somos -, então, repare, ele diz: 'Do Nordeste para Minas corre um eixo, que não por acaso segue o curso do Rio São Francisco, o rio da unidade nacional; a esse eixo o Brasil tem que voltar de vez em quando, se não quiser se esquecer de que é Brasil'. Essa frase ele me disse, tá certo?, depois ele publicou, mas ele me disse, ele era meu amigo. Pois bem, desde que eu li essa frase, eu comecei a pensar qual seria a expressão plástica da ponta mineira do eixo, aí eu disse, é o santuário de Congonhas. Então me lembrei disso aí: doze profetas, esculpidos em pedra por um homem mulato, doente, e que se sobrepôs acima das suas dores, dos seus sofrimentos, das suas angústias pessoais, para fazer esse monumento imperecível de beleza que está aí, para honrar o nosso país."

Então Ariano acrescenta que quando tomou conhecimento dessa frase de Alceu Amoroso Lima, e tendo identificado o santuário de Congonhas como sendo a expressão plástica da ponta mineira do eixo, tomou a decisão de "construir no Nordeste um santuário em homenagem a ele, ao Aleijadinho, e que vai assinalar a ponta nordestina do eixo". Foi então que Ariano construiu o Santuário denominado Ilumiara da Pedra do Reino, em São José do Belmonte, em frente à conhecida e mítica Pedra do Reino, inspiração de seu Romance. E prossegue dizendo: "Então eu resolvi erguer, e conclui, as dezesseis esculturas gigantescas em granito, feita por um grande escultor de origem popular, Arnaldo Barbosa. [...] As duas pedras que já existiam ficam sendo as torres da igreja". Uma fica do lado da Paraíba, no município de Misericórdia; a outra fica do lado de Pernambuco, no município de São José do Belmonte. Então, Ariano conta que resolveu fazer lá o santuário, dizendo que fez "um círculo dividido em dois hemisférios: o hemisfério do sagrado e o do profano [...]; no centro tem um marco, que eu coloquei ali e na frente tem [a inscrição] 'Ilumiara Pedra do Reino' e atrás tem 'Uma homenagem a Aleijadinho'." E finaliza: "Eu quis mostrar que esse santuário aí nasceu do de Congonhas, para assinalar a outra metade", isto é, a outra ponta do eixo apontado por Alceu amoroso Lima.

O Livro que Ariano prepara já há mais de vinte anos será chamado A Ilumiara. Segundo ele, de acordo com entrevista concedida em Taperoá-PB à jornalista Adriana Victor e transmitida na Rede Globo, a obra vai constar de quatro romances, ele disse em uma entrevista que "o primeiro dos quais será uma nova versão da Pedra do Reino, que já estou reescrevendo. Então o primeiro vai ser A Nova Pedra do Reino. O segundo vai se chamar  Quaderna, o Decifrador, que é a conclusão da Pedra do Reino. O terceiro vai se chamar A Onça Castanha. E o quarto vai se chamar O Palco dos Pecadores. E o todo forma um conjunto que se chama A Ilumiara". A Obra Literária será aberta com o seguinte poema:

Quem, seguro de si, cego do Sol,
Entrar por este Pasto incendiado,
Verá o riso, o choro e o desatino
De um grande povo, pobre e ilumiado.
Forjado ao Sol castanho da favela
E ao céu do Arraial do Leopardo.