domingo, 1 de maio de 2011

Sepultura - Itsari


Produzido com a Comunidade Xavante, Aldeia Pimentel Barbosa, Mato Grosso, Brasil

Os testemunhos de Jean de Léry asseguram que os Tupinambás eram grandes admiradores do canto, da música e da dança. Acompanhemos um desses seus testemunhos:

"... Certos intérpretes normandos, há muito residentes no país, disseram-me que os nossos tupinambás costumavam reunir-se com grande solenidade de três em três ou de quatro em quatro anos; achei-me por acaso em uma dessas reuniões e eis o que me foi dado observar.
Certa vez ao percorrermos o país, eu, outro francês chamado Tiago Rousseau e um intérprete, dormimos uma noite na aldeia de Cotina; pela madrugada, ao retomarmos a marcha, vimos chegarem de todos os lados os selvagens das vizinhanças, os quais foram reunir-se em número de quinhentos a seiscentos numa grande praça. Paramos então e voltamos para saber o objetivo da assembléia; nisto os silvícolas se separaram sùbitamente em três bandos. Os homens recolheram-se a uma casa, as mulheres entraram noutras e as crianças numa terceira. Como vi dez ou doze caraíbas [pajés ou feiticeiros] entre êles, suspeitei algum acontecimento extraordinário e convenci meus companheiros a permanecerem ali até averiguá-lo.
Antes de se separarem das mulheres e meninos, os caraíbas proibiram severamente de sair das casas em que se encontravam; aí também nos encerraram. Já havíamos começado a almoçar sem nada perceber ainda do que pretendiam os selvagens quando principiamos a ouvir na casa dos homens, a qual distava talvez trinta passos daquela em que estávamos, um murmúrio surdo de rezas; imediatamente as mulheres, em número de quase duzentas, se puseram tôdas de pé e muito perto uma das outras. Os homens pouco a pouco erguiam a voz e os ouvíamos distintamente repetir uma interjeição de encorajamento: - He, he, he, he. (Esses cantos, perfeitamente autênticos, eram conhecidos de todos os brasileiros e constituíam uma espécie de ritual familiar). Mais ainda nos espantamos, porém, quando as mulheres, por seu turno, a repetiram com voz trêmula: - He, he, he, he, [Léry insere aqui uma pequena partitura do tom, melodia e ritmo em que os tupinambás entoavam sua interjeição de encorajamento He].
Assim aconteceu durante um quarto de hora...

2 comentários:

Ambiente Coletivo disse...

A banda brasileira Sepultura é uma das poucas que realmente surpreende os ouvidos menos atentos. Suas músicas, consideradas por muitos como agressivas e barulhentas, agregam elemento de diversos outros estilos musicais e culturais, principalmente do Brasil.

O ápice dessa comunhão musical está no álbum Roots, do qual foi retirada a música “Itsári”. Com foco na cultura indígena e africana no Brasil, a colaboração vai desde os índios Xavantes até Carlinhos Brown.

No disco anterior, Chaos A.D., eles fizeram Kaiowas, música inspirada na tribo Caiouás que cometeram suicídio em massa como forma de protesto contra o governo que tentava tomar suas terras.

Atualmente, fizeram uma grande parceria com a Orquestra Experimental de Repertório de São Paulo, em prol do reflorestamento e preservação do Pau Brasil.

Seus dois últimos discos lançados – Dante XXI (baseado na “Divina Comédia”, obra de Dante Alighieri) e A-Lex (baseado no livro "A Clockwork Orange – Laranja Mecânica", de Anthony Burgess, e na versão cinematográfica de Stanley Kubrick.) – dão espaço à literatura e ao cinema.

Aqui um grupo que percebe, questiona e diz o que pensa através de suas músicas. E toda a agressividade que é apresentada em suas canções, nada mais é que um reflexo do mundo em que vivemos.

Parabéns, Gil!!! O blog tem conteúdo de primeira.

Gilfranco Lucena dos Santos disse...

Anderson,
esse teu comentário é um verdadeiro complemento técnico ao texto que postei!!! Muito obrigado pela s informações e pela genuinidade com que você apresentou o trabalho do Sepultura.
Um abraço.