terça-feira, 5 de abril de 2011

Encontro, Resistência e Luta: o Começo do Brasil


CHEGANÇA
Antônio Carlos da Nóbrega

Sou Pataxó, Xavante, Cariri
Yanomami, sou Tupi,
Guarani, sou Carajá,
Sou Pankararu,
Carijó, Tupinajé,
Potiguar, sou Caeté,
Ful-ni-ô, Tupinambá.

Depois que os mares dividiram os continentes,
Quis ver terras diferentes
Eu pensei: “vou procurar
Um mundo novo
Lá depois do horizonte,
Levo a rede balançante
Pra no sol me espriguiçar”

Eu atraquei
num porto muito seguro,
céu azul, paz e ar puro...
botei as pernas pro ar.
Logo sonhei
que estava no paraíso,
onde nem era preciso
dormir para se sonhar.

Mas de repente
me acordei com a surpresa
uma esquadra portuguesa
veio na praia atracar.
Da grande-nau
um branco de barba escura,
vestindo uma armadura
me apontou pra me pegar.

E assustado
dei um pulo lá da rede,
pressenti a fome, a sede,
eu pensei: “vão me acabar”.
Me levantei de borduna já na mão.
Ai, senti no coração,
o Brasil vai começar!


Criei a estrofe abaixo, para cantar alternativamente como refrão, levando em conta outros povos ancestrais:

Sou Caripó, Corema, Janduí,
Otsukaiana, Panatí,
Sou Icó, sou Aruá,
Sou Tarairiú,
Sou Pegas, Sou Canindé,
Uetacá, Baturité,
Quixelô, Sou Margaiá.


Levando em conta a visão de Antônio Carlos da Nóbrega, expressa nesse poema e música em ritmo de "Caboclinho", vejo que no termo Chegança encontramos um conceito adequado para o evento de começo da Terra que passou a ser chamada Brasil. Primeiro chegaram os povos da rede e da caça, do arco e da flecha... que despertaram do repouso em que viviam para o encontro e o confronto com o invasor posteriormente chegante... Esse poema dá o que pensar...

Nenhum comentário: