segunda-feira, 4 de abril de 2011

Motivos Pessoais do Interesse em uma Historiografia Ancestral

Resguardando seus vestígios, por seu caráter poiético, a existência faz História ao dar testemunho de sua história. Para se poder, de algum modo, legar os vestígios para a Saga de uma Família é preciso essa compreensão.

As gerações de meus antepassados mais remotos, dos meus ancestrais do passado e de meus familiares mais contemporâneos, viveram à margens dos afluentes da Bacia do Rio Piranhas-Açu. Minha Mãe nasceu às margens do Riacho dos Cavalos, em Catolé do Rocha-PB, no Sítio São José. Meu Pai nasceu às margens do Rio Sabugi, em São João do Sabugi-RN. Eu nasci no Sertão do Seridó, na cidade de Caicó-RN, às margens do Rio Seridó. Fui criado no Sertão do Espinharas, em Patos-PB, a "Morada do Sol" no Vale do Rio Espinharas, onde nasceram meus três irmãos.

Meu Avô Paterno, Seu Biró, era agricultor, e meu Avô Materno, Seu Chico Filinto, era sanfoneiro. Minha Avós Paterna e Materna, respectivamente Maria das Dores e Sebastiana, eram donas de casa. Conheci meus Bisavós Paternos, pais de minha Avó Paterna: Patrocina Eulina (Madrinha) e Joaquim Matias (Padrinho). Cresci ouvindo dizer que Madrinha era Neta de Índio. Por outro lado, meu Bisavô Paterno, pai de meu Avô Paterno, Seu Manoel Flor, era chamado de "Cabôco Brabo" (Caboclo Bravo). Isso me diz que muito provavelmente meus ancestrais são todos descendentes dos Tarairius, povos "tapuias" (inimigos dos Tupis), que habitaram nas terras seridoenses, antes que o Sertão do Seridó fosse invadido pelos invasores luso-descendentes que, segundo pesquisas de José Augusto (1954) teriam vindo de Igarassu-PE e Goiana-PE, além de outros vindos da Paraíba no séc. XVII (cf. AUGUSTO, 1954, p. 10).

De acordo com o pesquisador potiguar Hélder Alexandre Medeiros de Macêdo, a interpelação "Cabôco Brabo" ou Cabôca Braba" é um sinal da ascendência das famílias de origem "tapuia" que sobreviveram após as "Guerras dos Bárbaros". Segundo ele, foi como Caboclo Brabo ou Cabocla Braba que "ficaram conhecidos na memória familiar os índios e índias que sobreviveram à dizimação durante as Guerras dos Bárbaros (1683-1725) ou à escravidão em épocas posteriores a essas", assegura o nobre historiador, doutorando em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em seu artigo "Caboclas Brabas: História Indígena do Sertão do Seridó por meio da memória de seus moradores" (Comunicação feita no X Encontro Nacional de História Oral - Testemunhos: História e Política, realizado no Recife, de 26 a 30 de abril de 2010, no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFPE).

O Prof. Hélder acrescenta ainda que estes Caboclos e Caboclas Brab@s, "escondidos nos pés de serra ou nas suas chãs e homiziados nas furnas e grotas, fugindo a todo tempo do alastramento da fronteira pastorícia, foram literalmente caçados pelos conquistadores, que, montados em cavalos e com a ajuda de cães de caça, domaram a sua brabeza." Certamente devo dizer que não foram domados, porque não eram animais, mas certamente tiveram de buscar formas de não serem subjugados à crueldade dos colonizadores, e tentaram conquistar formas pacíficas de convivência, ainda que possivelmente injustas, para poder sobreviverem. 

Para mim pareceu extremamente importante e digno de interesse outro fato, que a mim parece extremamente curioso e relevante: ele diz que "Ainda que existam alguns relatos de caboclos-brabos (SOARES & PEREIRA, 2000, p 17-8;21), a maior incidência de histórias de família coletadas dentre as memórias individuais dos seridoenses recai sobre a presença de caboclas como tronco genealógico ancestral". Este fato é para mim relevante porque, de acordo com Tia Luzia, irmã de meu Avô Paterno Seu Biró, em conversa que tive com ela e mais duas de suas irmãs (Tia Nenê e Madrinha Flor) no dia 16 de outubro de 2002, fora da minha Trisavó Florência Flor da Silva (Parteira), que viera o sobrenome "Flor" aplicado a toda a família. Esses dois indicadores de que meu Bisavô Paterno Manuel Lourenço da Silva (Seu Manuel Flor) era chamado de "Cabôco Brabo", e sua mãe, que era parteira, minha Trisavó Paterna, Florência Flor da Silva, fora a Cabocla Brava que concedera o sobrenome Flor como tronco genealógico ancestral de toda a Família, concedem-me boas "provas" de minha ancestralidade "tapuia".

Esses elementos constituem para mim motivos fundamentalmente pessoais do meu engajamento por uma Historiografia Ancestral.

REFERÊNCIAS

AUGUSTO, José. Seridó. vol. I. Rio de Janeiro: Borsoi, 1954.

MACÊDO, Hélder A. M. de. Caboclas Brabas: História Indígena do Sertão do Seridó por meio da memória de seus moradores, in Anais do X Encontro Nacional de História Oral - Testemunhos: História e Política. Recife: 2010.

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